A Emancipação e a Construção de uma Cidade
Volta Redonda, uma cidade que nasceu no coração da industrialização brasileira, completa 70 anos de emancipação em 17 de julho de 2024. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), instaurada na década de 1940, foi o pilar que sustentou o crescimento da cidade, tornando-a uma referência na Era Vargas, onde o Estado assumiu um papel ativo como investidor e planejador. O urbanista Atílio Corrêa Lima, responsável pelo projeto urbano da cidade, concebeu Volta Redonda como uma ‘company-town’, uma minicidade administrada por uma única corporação. De acordo com Lima (2008), essa abordagem integrava habitações, comércio, escolas e áreas de lazer sob a égide da CSN.
A cidade operária foi idealizada com áreas destinadas a funções específicas como habitação, trabalho e lazer, seguindo a dualidade de urbanização preconizada por Tony Garnier, um arquiteto francês famoso por seus conceitos de urbanismo progressista. Assim, a estrutura urbana de Volta Redonda reflete uma integração entre o polo industrial e as áreas residenciais, conforme mencionado por Lopes (1993), que analisou como essa configuração visava construir uma nova relação entre capital e trabalho.
A Influência da CSN na Vida Social e Econômica
A CSN não apenas moldou fisicamente a cidade, mas influenciou suas dinâmicas sociais e culturais. A tradicional praça e a igreja matriz, comuns em outras cidades brasileiras, foram substituídas pela Usina da CSN no centro urbano. Assis (2013) notou que, apesar da ausência de templos religiosos nas projeções urbanísticas, a Igreja sempre esteve presente na vida comunitária, com uma construção erguida na Vila Santa Cecília, um ponto fora da centralidade da cidade. O espaço geográfico de Volta Redonda, portanto, é atravessado por uma lógica de dualidade entre os centros urbano e fabril.
Além do plano urbanístico, a CSN também desempenhou um papel significativo na educação e na cultura local, fundando diversas instituições de ensino, como a Escola Técnica da CSN e o Colégio Nossa Senhora do Rosário, sob a administração de congregações religiosas. Essa intersecção entre a empresa e a Igreja local possibilitou a formação de uma mão de obra qualificada e o fortalecimento do vínculo entre a comunidade e a siderúrgica.
Desafios e Transformações ao Longo das Décadas
No entanto, a trajetória de Volta Redonda não foi apenas de crescimento e prosperidade. A emancipação político-administrativa, ocorrida em 1954, e a mudança de gestão da CSN para a prefeitura em 1967 marcaram a transição de uma cidade essencialmente industrial para uma metrópole em busca de diversificação econômica. A crise econômica que afetou a CSN levou à venda de casas pertencentes à empresa, promovendo uma nova dinâmica de propriedades e desafios sociais.
Hoje, Volta Redonda se projeta como um polo universitário, com instituições como o Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que abriga um dos cursos de Medicina mais renomados da região. O crescimento no setor educacional contribui para a movimentação econômica local, com um aumento na demanda por serviços, habitação e lazer, principalmente por parte do público estudantil.
O Futuro de Volta Redonda
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À medida que a cidade se prepara para celebrar suas sete décadas de história, surgem novas oportunidades e desafios. A transição de uma economia centrada na indústria para uma que valoriza a educação, a tecnologia e os serviços promete moldar a próxima fase do desenvolvimento local. Além disso, iniciativas culturais, como a formação da Orquestra Filarmônica de Volta Redonda, evidenciam o compromisso com a promoção da cultura e da arte na cidade.
Em suma, os 70 anos de Volta Redonda refletem a trajetória de uma cidade que, nascida do aço, evolui como um centro multifacetado, unindo passado, presente e futuro em um só lugar.