Aprofundando-se nas Identidades de Niterói
Quantas “vidas” uma cidade pode ter? Esse questionamento instigante levou o historiador Victor Andrade de Melo a se lançar na escrita de “As seis vidas de Niterói: uma biografia”, que chega ao público através da Sophia Editora. A obra promete um mergulho profundo nas diversas identidades que formam a essência da cidade, conhecida como Cidade Sorriso.
O lançamento do livro está agendado para o dia 26 de junho, uma quinta-feira, às 18h, na Biblioteca Central do Gragoatá, localizada na Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis, s/n, no Campus do Gragoatá da UFF, em Niterói. Em uma colaboração com o Centro de Memória Fluminense da UFF, o evento contará ainda com o lançamento da obra “O Rio de Janeiro nos jornais (1964–1985)”, organizada por Renato Coutinho e Jorge Ferreira, também da Editora Igualdade.
Outra data marcada para a apresentação de “As seis vidas de Niterói” é no dia 1º de julho, uma terça-feira, às 18h, na Livraria Folha Seca, situada na Rua do Ouvidor, 37, Centro do Rio de Janeiro. O livro pode ser adquirido diretamente no site oficial da editora, no link: https://www.sophiaeditora.com.br/as-seis-vidas-de-niteroi-uma-biografia-de-victor-andrade-de-melo.
A Trajetória de Um Carioca em Niterói
Embora não tenha nascido em Niterói, Victor Andrade de Melo é um carioca que passou 47 anos de sua vida no Rio de Janeiro. Sua mudança para o lado oposto da Baía da Guanabara foi inicialmente planejada para durar apenas um ano, mas o encanto pela cidade e por sua rica história fez com que ele permanecesse lá por cinco anos. Essa experiência pessoal, aliada ao seu crescente interesse pela história local, resultou em uma narrativa que equilibra rigor acadêmico e uma prosa acessível, distribuída em seis capítulos que representam as “vidas” da cidade.
O livro não se limita a um apanhado de efemérides, mas busca entender como diversas circunstâncias moldaram identidades díspares para Niterói ao longo do tempo. Desde as raízes indígenas até a era contemporânea da “Cidade Sorriso”, a obra revela como períodos de invisibilidade e crise foram transformadores, cada fase sendo analisada como uma verdadeira metamorfose urbana.
Seis Capítulos e Suas Narrativas Incontáveis
A primeira vida abordada no livro traz à tona a figura emblemática de Arariboia, um cacique que se tornou um símbolo municipal, revelando também as contradições do sistema de aldeamento imposto pela Coroa. O autor também resgata histórias curiosas, como a prática da pesca de baleias na Ponta da Armação, atualmente conhecida como Ponta d’Areia, um elo com um Brasil profundo que ainda se manifesta em traços e nomes de bairros.
Na terceira vida, chamada “Cidade Invicta”, Victor destaca a Revolta da Armada de 1893, evidenciando como a resistência local ao conflito se transformou em um motivo de orgulho para os niteroienses. Já em sua fase mais recente, desde 1989, Niterói é retratada como uma cidade em disputa, onde o discurso de qualidade de vida convive com desigualdades e tensões urbanas.
A Oralidade e a Cultura Popular como Elementos Fundamentais
Um dos pontos altos da obra é a atenção dedicada à oralidade e à cultura popular, que revelam os afetos e regionalismos que constituem a alma da cidade. Para Victor, esses elementos são fundamentais na busca por uma identidade que não reduza Niterói a um simples subúrbio do Rio, mas que a afirme como uma cidade autônoma. Ele observa: “O desafio de Niterói sempre foi construir uma identidade própria”.
A relação entre Niterói e Rio de Janeiro permeia toda a narrativa e o olhar crítico do autor. Victor esclarece: “Não encaro essa relação como rivalidade, mas sim como um diálogo constante”, destacando a importância de entender as duas cidades em conjunto.
Além disso, o autor se preocupa em dar voz a diversos grupos sociais, destacando a contribuição fundamental de negros, operários e mulheres na construção da história niteroiense. Ele enfatiza: “Quis narrar uma história múltipla.”
Com uma linguagem acessível e uma base documental robusta, “As seis vidas de Niterói: uma biografia” não é apenas uma análise crítica, mas também uma declaração de amor à cidade. Victor expressa sua esperança de que o livro inspire uma nova apreciação por Niterói: “Amar uma cidade é também reconhecer suas contradições e desejar que ela seja melhor para todos”.
Ao finalizar, ele acrescenta: “Se as pessoas apreciarem mais a cidade após a leitura, já estará ótimo. Mas se desenvolverem um olhar crítico, aí sim terei cumprido meu papel”.
Sobre o Autor
Victor Andrade de Melo é professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e há muitos anos se dedica ao estudo das cidades, com foco nas suas identidades, sociabilidades e transformações. Com uma vasta produção acadêmica, ele se destaca por obras como “Cidade divertida: entretenimento no Rio de Janeiro do século XIX” (7 Letras, 2022) e “Sol e sombra: as touradas no Rio de Janeiro” (com Paulo Donadio, Unesp, 2024). Sobre Niterói, publicou também “A vida esportiva de Niterói (séc. XIX–1919)” (Niterói Livros, 2019) e “A Sevilha Fluminense” (Itapuca, 2022).