Desafios Enfrentados pelos Diretores Escolares
Após o professor, a figura do diretor escolar se destaca como uma das mais relevantes para o aprendizado e bem-estar dos estudantes. Essa percepção, embora intuitiva, é respaldada por estudos acadêmicos. Entretanto, o Brasil ainda carece de políticas efetivas para a formação, valorização e suporte a esses profissionais. Um novo levantamento, publicado na revista ‘Cadernos de Pesquisa’, revela as dificuldades enfrentadas, principalmente nos primeiros anos de atuação.
Com base nas experiências de 75 diretores novatos da rede municipal de São Paulo, além de quatro entrevistas detalhadas, os pesquisadores Lara Simielli (FGV Eaesp) e José Weinstein (Universidad Diego Portales, Chile) identificaram que 87% dos gestores consideraram seu primeiro ano de trabalho como “difícil” ou “muito difícil”. A falta de uma formação adequada antes de assumir o cargo e o escasso apoio na transição da sala de aula para a gestão foram destacados como fatores críticos.
Sentimento de Preparação e Apoio entre Novos Gestores
A maioria dos entrevistados, representando 60%, indicou que se sentia pouco ou nada preparada para as responsabilidades da gestão escolar. O apoio mais significativo, conforme relatado, provém da troca de experiências com outros diretores, especialmente aqueles que também iniciam suas atividades na mesma época. Os desafios incluem dificuldades em liderar, gerir a equipe, a sensação de solidão no cargo, resistência a inovações e uma carga excessiva de procedimentos burocráticos e demandas administrativas.
Embora a pesquisa se concentre na cidade de São Paulo, os autores ressaltam que a realidade dos gestores escolares é semelhante em outras regiões, tanto no Brasil quanto em contextos internacionais.
Estudo Complementar Aponta Questões Semelhantes
Outro estudo relevante, realizado no ano passado pelo Instituto Unibanco e conduzido pelo pesquisador Breno Reis, corroborou essas dificuldades. A análise das características dos diretores em redes estaduais revelou que a maioria deles, em sua maioria mulheres, ocupava o cargo há menos de cinco anos, sem experiência anterior na função. Somente 19% dos gestores possuíam, até 2023, uma formação específica em gestão escolar com, pelo menos, 80 horas de aulas.
Apesar dos dados alarmantes, os pesquisadores sinalizam alguns avanços: o percentual de diretores com formação específica era de apenas 10% em 2019, ano em que o Censo Escolar começou a investigar essa questão.
Mudanças na Seleção e Formação dos Diretores
Observa-se também uma mudança positiva nos processos de seleção. Em 2022, 67% dos diretores nas redes municipais eram escolhidos exclusivamente por indicações da gestão municipal, o que possibilitava a prática de indicações políticas. Já em 2024, essa porcentagem caiu para 40%. Essa alteração se deve a uma iniciativa positiva do novo Fundeb, aprovado em 2020. Uma parte dos recursos do fundo é distribuída dependendo do cumprimento de determinadas condições; entre elas, a seleção de diretores com base em critérios técnicos e de mérito, desencorajando assim as escolhas por indicação política.
Rumo a uma Gestão Escolar Eficiente
Tais avanços devem ser reconhecidos, embora ainda sejam insuficientes para provocar uma mudança significativa nas políticas de gestão escolar. Países que obtiveram sucesso nessa área desenvolveram estratégias abrangentes, que não se limitam a uma única etapa do processo. Essas iniciativas incluem a definição clara do que se espera de um gestor escolar, investimentos em formação inicial e continuada que se alinhem à prática e suporte constante, especialmente para os novatos.
Em alguns sistemas educacionais, há também incentivos para a liderança distribuída nas escolas, ampliando as oportunidades para outros profissionais desenvolverem habilidades de gestão e aliviando a carga de trabalho dos diretores. Além disso, a criação de incentivos financeiros tem o potencial de atrair mais candidatos qualificados para a função. Um esforço em remover burocracias excessivas é crucial, permitindo que esses profissionais se concentrem no que realmente importa: a aprendizagem e o bem-estar dos estudantes.

