Alívio nos Preços dos Alimentos Impacta Inflação
A inflação no Brasil, que antes parecia incontrolável, começa a mostrar sinais de alívio, especialmente em relação aos preços dos alimentos. O Banco Central (BC) elevou a taxa Selic para 15% ao ano, o maior índice desde 2006, como parte de uma estratégia para desacelerar a demanda e conter a ascensão dos preços. Segundo especialistas, a queda nos preços dos alimentos foi determinante para que a inflação não extrapolasse os limites da meta estabelecida pelo governo.
Os preços dos serviços, por sua vez, continuam sob pressão por conta da demanda aquecida, impulsionada por um mercado de trabalho em recuperação. A economista Andréa Angelo, da gestora Warren Investimentos, destaca que a desaceleração da inflação tem origem na redução dos preços dos alimentos e na valorização do câmbio. Para ela, esses fatores têm um papel significativo na composição da inflação geral.
No último mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou uma alta de 0,25%, impulsionada principalmente pelo segmento de Transportes, que viu um aumento de 12,71% nas passagens aéreas e de 9% no transporte por aplicativo. Embora o grupo Alimentação e Bebidas tenha aumentado em apenas 0,13%, a alimentação no domicílio caiu pelo sétimo mês consecutivo, mostrando um quadro de alívio.
Considerando o acumulado do ano, o grupo Habitação, com 6,69%, foi o que mais impactou o índice, impulsionado pela alta nas contas de luz. Em contrapartida, Alimentação e Bebidas subiram apenas 3,57%. Quando analisamos a alimentação no domicílio isoladamente, o aumento foi apenas de 1,94%, a segunda menor variação desde 2017, destacando-se apenas atrás do recuo de 0,82% registrado em 2023.
Produção de Alimentos e Preços Sob Controle
Os alimentos têm um peso significativo na cesta de consumo que compõe o cálculo do IPCA, representando cerca de 18%. Esse fator é crucial para a manutenção da inflação sob controle. André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), ressalta que as condições climáticas favoráveis e a valorização do câmbio contribuíram para a estabilidade dos preços alimentares.
Os volumes adequados de chuva em 2025 e a queda da cotação do dólar tiveram um impacto positivo na produção agrícola. Segundo Braz, “Alimentação é câmbio na veia. Um volume de chuva adequado, aliados a boas safras, explica o alívio nas cotações”. Além disso, as restrições temporárias impostas às exportações de aves devido a surtos de gripe aviária também foram determinantes para a contenção de preços.
Desafios Futuros para a Inflação
Economistas, no entanto, alertam que 2026 poderá ser um ano desafiador. Fábio Romão, economista sênior da consultoria 4Intelligence, aponta que a baixa na produção de alimentos e a demanda externa aquecida podem levar a aumentos nos preços das carnes e de outros produtos alimentícios. O arroz, que já caiu aproximadamente 27% em 2023, deve subir devido à redução da safra, enquanto as carnes podem apresentar uma alta de 8% com um ciclo pecuário negativo.
Além disso, a possibilidade de um fenômeno climático, como a La Niña, pode afetar a produção agrícola e, consequentemente, a inflação. Os economistas projetam que a alimentação em casa deve registrar um aumento de 4,5% em 2024, ainda abaixo da média anual de 7,7% da última década. O seu impacto na inflação ficará ainda mais evidente na proximidade das eleições gerais.
Ramificações para o Cenário Político
O controle da inflação, especialmente nos preços dos alimentos, é um tema sensível e merece atenção, principalmente em anos eleitorais, pois influencia diretamente a percepção popular sobre a gestão econômica. Durante um evento no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou esses dados otimistas para reforçar sua narrativa de sucesso econômico, afirmando que as pessoas estão recuperando o poder de compra.
Entretanto, mesmo com os dados positivos, pesquisas recentes indicam que a inflação ainda impacta negativamente a avaliação do governo. Segundo o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a próxima eleição poderá ser comparável a 2018, quando a inflação de alimentos teve um papel crucial nas decisões dos eleitores. As lições de 2021 e 2022, onde a inflação de alimentos disparou, ainda estão frescas na memória da população.

