Dicas para Evitar a Trombose do Viajante
As férias de fim de ano são sinônimos de viagens longas, com aeroportos lotados e horas a fio sentado em aviões, ônibus ou carros. Nesse cenário, a “trombose do viajante” se torna um tema de preocupação, especialmente para quem vai enfrentar deslocamentos que superam quatro horas. Essa condição está ligada à formação de coágulos no sangue, um problema que pode surgir devido à imobilidade prolongada.
Embora o risco geral de trombose seja baixo para pessoas saudáveis, a combinação de longos períodos sem movimento, desidratação e características pessoais pode aumentar a probabilidade de trombose venosa, principalmente nas pernas. Portanto, a atenção deve começar antes mesmo da viagem e continuar após a chegada ao destino.
A trombose ocorre quando um coágulo se forma dentro de uma veia, dificultando ou bloqueando a circulação sanguínea. Em viagens, essa situação é exacerbada pela diminuição do fluxo sanguíneo nas pernas. O cirurgião vascular Henrique Lamego Junior esclarece que ficar sentado por muito tempo impede que o corpo utilize mecanismos essenciais para o retorno do sangue ao coração. “Quando estou parado, a estase sanguínea aumenta, o que diminui o fluxo”, comenta.
A lentidão na circulação resulta na dilatação das veias, criando um ambiente favorável para a formação de trombos, que são coágulos sanguíneos. O risco de trombose se torna relevante em trajetos que duram cerca de quatro horas, especialmente em voos internacionais. Além da imobilidade, fatores como assentos apertados, compressão atrás do joelho e até a leve redução da oxigenação no sangue durante voos podem agravar a situação.
Quem está mais vulnerável a esses riscos? Pessoas que já tiveram trombose, fumantes, obesos, sedentários, pacientes oncológicos, mulheres que usam anticoncepcionais e homens em uso de testosterona precisam ter cuidado redobrado. A idade também é um fator, com o risco crescendo após os 45 ou 60 anos.
O angiologista Caio Cesar Martins Focassio destaca que a desidratação é um agravante comum em viagens. “Hidratar-se adequadamente ajuda a evitar que o sangue se torne mais viscoso, facilitando a circulação”, afirma. Durante as viagens, especialmente de avião, as pessoas tendem a beber menos água, o que aumenta as chances de trombose. O consumo de álcool e cafeína, frequentemente associado a deslocamentos longos, também pode contribuir para a desidratação.
Outro aspecto preocupante é a relação entre trombose venosa profunda e embolia pulmonar, que acontece quando parte do coágulo se desprende e migra para os pulmões. Ambas as condições são manifestações do tromboembolismo venoso (TEV), e segundo Focassio, muitas tromboses podem evoluir silenciosamente para embolias. “Felizmente, muitas vezes esse processo pode ser assintomático”, explica.
Como se prevenir? A boa notícia é que existem métodos simples para minimizar o risco. A principal recomendação é movimentar-se sempre que possível. Mesmo sentado, é viável ativar a circulação com movimentos básicos, como mover os pés para frente e para trás, fazer rotações com os tornozelos e elevar alternadamente os calcanhares e as pontas dos pés. Sempre que houver oportunidade, levantar-se e caminhar alguns minutos é uma excelente prática.
Outro aliado importante são as meias de compressão elástica, que ajudam a minimizar a estase venosa e facilitam o retorno do sangue ao coração. O cirurgião vascular André Estenssoro ressalta que essas meias são eficazes na prevenção de tromboses venosas, e sua indicação e tipo ideal podem variar de acordo com o perfil do viajante. Geralmente, são recomendadas para viagens que duram de três a quatro horas.
Após o desembarque, é fundamental continuar com os cuidados. Os especialistas alertam que os sintomas podem surgir dias ou até semanas após a viagem, sendo mais frequentes nas duas primeiras semanas. Inchaços, especialmente se uma perna estiver mais inchada do que a outra, dor localizada, rigidez na panturrilha e mudanças na coloração da pele são sinais que não devem ser ignorados.
Para Lamego, observar a assimetria é crucial: “Se o inchaço é desigual, é necessário procurar atendimento médico”. Além dos sintomas nas pernas, a falta de ar súbita, dor no peito, tosse com sangue ou desmaios exigem auxílio médico imediato, pois podem indicar embolia pulmonar. Embora a trombose do viajante seja considerada um risco baixo na população geral, um diagnóstico precoce é vital para evitar complicações sérias. Portanto, atenção redobrada durante as viagens é fundamental para garantir uma experiência de fim de ano segura e saudável.

