Desdobramentos da Candidatura de Carlos Bolsonaro
Santa Catarina, tradicional refúgio da família Bolsonaro, agora se transforma em um campo de batalha política, especialmente após a decisão do ex-vereador Carlos Bolsonaro (PL) de concorrer ao Senado. Essa escolha gerou desconforto entre aliados locais, já que alterou um acordo que previa uma chapa composta pelo senador Esperidião Amin (PP) e a deputada federal Caroline de Toni (PL). O arranjo idealizado pelo governador Jorginho Mello (PL) visava preservar a força da direita no estado, um dos bastiões bolsonaristas do Brasil.
Recentemente, Carlos anunciou a renúncia ao seu mandato na Câmara do Rio e transferiu seu título eleitoral para Santa Catarina, criando um novo cenário político na região. O plano da família Bolsonaro inclui aumentar a bancada no Senado, com a intenção de desafiar o Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima legislatura, cogitando até mesmo a possibilidade de impeachment de ministros.
Além de Carlos, outros membros da família, como Eduardo Bolsonaro por São Paulo, Michelle Bolsonaro pelo Distrito Federal e Flávio Bolsonaro que busca reeleição no Rio de Janeiro, também estão no radar. Porém, a situação se torna mais complexa com o exílio de Eduardo nos Estados Unidos e a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Flávio, considerado o mais moderado entre os irmãos, foi apontado por Jair Bolsonaro como um potencial candidato à presidência em 2026, mas partidos do centrão já demonstram preferência por uma chapa liderada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com Michelle como vice.
O Novo Cenário Político em Santa Catarina
Apesar da incerteza no cenário da sucessão presidencial, Carlos mantém sua candidatura e se estabeleceu em Santa Catarina. Ele possui uma rede de amigos influentes na região e frequenta clubes de tiro na Grande Florianópolis. Seu novo domicílio eleitoral é em São José, uma cidade com cerca de 270 mil habitantes, próxima à capital. Jair Renan, seu irmão, já atua como vereador em Balneário Camboriú.
Segundo a família Bolsonaro, Carlos tem boas chances de se eleger senador, reforçado pelo apoio popular ao bolsonarismo em Santa Catarina. Na eleição de 2018, Jair Bolsonaro conquistou 75% dos votos no estado, enquanto na eleição seguinte, o percentual foi de 69,2%. Contudo, o imbróglio político envolvendo Amin e Caroline de Toni causa preocupação.
Amin busca reeleição e é um aliado importante dos Bolsonaro e do governador Mello. Além de ser relator de um projeto que atenuou a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro, ele se vê como favorito na disputa, mas evita entrar em polêmicas sobre a nova formação da chapa. Para Caroline, a situação é mais delicada; atualmente em seu segundo mandato, ela considera a possibilidade de se candidatar pelo Novo, o que poderia abrir espaço para uma nova candidatura ao Senado.
Desafios e Resistências na Candidatura de Carlos
Carlos tem tentado estabelecer uma aliança com Caroline, o que colocaria em xeque a candidatura de Amin. Contudo, os partidos envolvidos, como PP e União Brasil, já manifestaram descontentamento, ameaçando retirar apoio à reeleição de Mello. Dentro do PL, a deputada estadual Ana Campagnolo, aliada de Caroline, sugeriu que Carlos considerasse concorrer em estados do Norte, onde a popularidade da família é robusta. Essa proposta, que alega que a presença de Carlos poderia desestabilizar os acordos firmados pela direita, foi rebatida com críticas contundentes nas redes sociais por Carlos e Eduardo.
Um dos maiores receios gira em torno da possível rejeição do eleitorado a um candidato que não possui laços diretos com o estado. Uma pesquisa recente do grupo de comunicação ND aponta que 60,5% dos entrevistados são contrários à candidatura de Carlos e que 60,9% prefeririam que Jair Bolsonaro apoiasse um candidato local. No entanto, o mesmo levantamento revela que Carlos possui 26,1% de intenção de votos, ficando atrás de Caroline, que lidera com 28,8%. Por outro lado, a rejeição a Carlos é significativa, com 34,3% dos eleitores afirmando que não votariam nele.
Sem sinal de recuo por parte de Carlos, alguns líderes do centrão alimentam a hipótese de que sua candidatura pode ser uma estratégia para desviar a atenção de uma eventual desistência de Flávio Bolsonaro em suas aspirações presidenciais. Caso a candidatura de Carlos se concretize, especula-se que ele poderia retornar ao Rio para aproveitar a base de votos do irmão. Mantendo-se em Santa Catarina, Flávio poderia reconsiderar a reeleição ao Senado, onde é visto como forte concorrente. No entanto, a disputa no PL do Rio de Janeiro também se revela acirrada, com outros candidatos como o senador Carlos Portinho, o governador Cláudio Castro e deputados como Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy na corrida.

