Caminhos para uma Cultura de Dados no Brasil
A ascensão da inteligência artificial generativa no Brasil é inegável. Uma pesquisa recente da Dell Technologies, intitulada Estado da Inovação e IA 2025, revela que 94% dos líderes empresariais reconhecem o impacto significativo dessa tecnologia em suas áreas, com 88% já observando melhorias notáveis em retorno sobre investimento (ROI) e produtividade. Contudo, persiste uma lacuna preocupante: as organizações precisam desenvolver habilidades novas em suas equipes para explorar plenamente as potencialidades dessa inovação. Nesse cenário acelerado, fica claro que o valor não reside apenas no acesso aos dados, mas na capacidade de interpretá-los com uma visão crítica e humana.
Nos últimos anos, a compreensão sobre o papel estratégico dos dados tem avançado de maneira exponencial. Atualmente, há um consenso de que eles são essenciais para promover a transformação digital e garantir uma vantagem competitiva. Entretanto, essa valorização pode gerar um risco comum: a tendência de tomar decisões excessivamente fundamentadas em dados, de modo automático e sem levar em conta o contexto, a experiência ou a intuição — um ponto crucial à medida que o uso de IA se intensifica.
A literatura acadêmica também expressa essa preocupação. Um estudo publicado no Journal of Innovation in Polytechnic Education (2024) observa que “os dados podem indicar uma direção, mas nem sempre mostram o caminho correto”. Isso significa que, enquanto os dados informam sobre o que está acontecendo, eles não necessariamente esclarecem o porquê ou o que deve ser feito a respeito. A bibliografia sobre Tomada de Decisão Informada por Dados, compilada pelo National Center for Principled Leadership & Research Ethics, sublinha que o julgamento humano é vital para uma interpretação mais profunda e responsável das informações.
Uma Abordagem Mais Crítica na Tomada de Decisões
Adotar uma cultura orientada por dados (data-informed) implica em enxergar os dados como insumos valiosos, e não como meras ordens. A verdadeira estratégia emerge da combinação entre métricas, experiência, sensibilidade ao contexto, ética e pensamento crítico. Esta abordagem é ainda mais pertinente quando se considera o crescimento exponencial de dados gerado pela IA generativa. As empresas brasileiras enfrentam desafios como a expansão da infraestrutura, a privacidade e a otimização de custos, tudo isso enquanto buscam alinhar a inteligência artificial aos seus objetivos de negócios. Soluções escaláveis e ferramentas avançadas de ciência de dados têm desempenhado um papel crucial nesse processo, ampliando a capacidade de converter dados brutos em inteligência acionável.
A sustentabilidade surge como outra prioridade relevante. A maioria dos executivos vê a IA como uma ferramenta essencial para promover a eficiência energética, e as soluções de data centers já incorporam práticas que visam uma transformação digital mais sustentável e competitiva. Além disso, a iminente chegada de agentes pessoais e IA agentivas representa uma nova era: muitos líderes identificam oportunidades significativas nesse modelo, embora apenas uma pequena fração das organizações se considere madura no uso de IA generativa. Várias delas já incluem equipes de ciência de dados no treinamento de modelos internos, sinalizando que muitos projetos ainda estão em fase piloto.
A Importância do Elemento Humano na IA
Dentro desse quadro, a garantia de “humanos no loop” torna-se essencial. A tecnologia deve atuar como um amplificador da inteligência das equipes, e não como um substituto. A sinergia entre algoritmos sofisticados, validação humana e a capacidade de captar nuances aumenta a confiabilidade, diminui vieses e resulta em decisões mais robustas.
No dinâmico e culturalmente rico mercado brasileiro, os dados são cruciais, mas não são infalíveis. Liderar com inteligência contextual é fundamental. O futuro não pertence àquele que acumula mais dados, mas sim àquele que consegue interpretá-los com profundidade e humanidade. Na era da inteligência artificial, o elemento humano se torna mais valioso do que nunca.
Luis Gonçalves é presidente da Dell Technologies para a América Latina.

