O Custo Oculto da Criminalidade na Economia Brasileira
O recente olhar sobre o impacto da criminalidade na economia brasileira revela números alarmantes. A investigação mostra que o crime representa um fardo colossal aos cofres públicos, estimado em até R$ 1,5 trilhão. Essa quantia não é apenas uma estatística, mas representa vidas comprometidas, produtividade perdida e uma confiança social em constante deterioração.
Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já havia indicado que o crime e a violência consomem cerca de 3,4% do PIB na América Latina. O Brasil, infelizmente, figura entre os países mais afetados por esse fenômeno. Um levantamento posterior do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elevou essa estimativa para 5,9% do PIB, o que corresponde a aproximadamente R$ 373 bilhões, considerando gastos públicos e perdas de produção. Esses números evidenciam um desafio econômico que o país enfrenta há anos.
Pesquisas realizadas por corporações indicam que as empresas gastam o equivalente a 1,7% do PIB para se protegerem do crime, considerando esses gastos como parte normal de seus custos operacionais. No entanto, tais cifras não capturam a totalidade do impacto social do crime, como os custos de vidas perdidas, a evasão escolar provocada pelo medo, ou investimentos que nunca se concretizam devido à insegurança.
Desdobramentos da Violência e a Economia Subterrânea
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Os pesquisadores do Ipea advertiram que os R$ 373 bilhões mencionados anteriormente representam apenas uma estimativa mínima dos custos sociais da violência. Estudos mais recentes sugerem que, ao incluir perdas indiretas, o crime pode estar reduzindo o PIB do Brasil em cerca de 11%, totalizando mais de R$ 1 trilhão em valores atualizados.
A economia subterrânea, com suas atividades não registradas, representa um desafio adicional. Segundo o Índice de Economia Subterrânea, essas atividades informais corresponderam a 17,8% do PIB do Brasil em 2022, somando cerca de R$ 1,7 trilhão. Embora não todas as atividades informais sejam ilícitas, essa economia baseada em dinheiro vivo facilita atividades como contrabando, fraude fiscal e lavagem de dinheiro, complicando ainda mais a fiscalização e ampliando as perdas de receitas.
O Comércio Ilegal e Seus Efeitos na Economia Formal
Além da economia informal, o comércio ilícito agora reflete a diversidade da economia formal. Um levantamento do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade estimou que o contrabando e a pirataria custaram ao Brasil cerca de R$ 468 bilhões em 2024. Este valor inclui R$ 328 bilhões em vendas perdidas para empresas legítimas e R$ 140 bilhões em impostos não arrecadados. Setores como tabaco, vestuário e eletrônicos têm sido os mais afetados, evidenciando como o crime está profundamente enraizado nos mercados convencionais.
No setor de logística, esses impactos são bastante evidentes. Em 2024, o Brasil registrou mais de 10.478 casos de roubos de carga, resultando em perdas estimadas em R$ 1,2 bilhão. Quando incluímos os custos de roubos e fraudes ligadas ao combustível, as perdas anuais totalizam cerca de R$ 29 bilhões, forçando as empresas a adotarem medidas preventivas que encarecem a oferta de produtos.
Desmatamento e seus Custos Ocultos
O crime ambiental representa uma das áreas mais subestimadas na contabilidade do impacto criminoso. O projeto MapBiomas Alerta revelou que, em 2020, mais de 74 mil alertas de desmatamento foram registrados, a maioria com indícios de ilegalidade. Essa criminalidade não só devasta o meio ambiente, mas também drena os recursos econômicos do país. Um estudo sugere que usinas hidrelétricas, como Itaipu e Belo Monte, perdem bilhões de reais anualmente devido a alterações climáticas decorrentes do desmatamento.
As perdas na agricultura, especialmente entre 2013 e 2022, foram estimadas em R$ 186 bilhões, refletindo os impactos das mudanças nos padrões de chuva. Além disso, o valor dos serviços ecossistêmicos da Amazônia é estimado em mais de R$ 1,5 trilhão anualmente, o que mostra que cada hectare desmatado não é apenas um crime ambiental, mas uma transferência de riqueza pública para interesses privados.
Um Desafio Macroecônomico
Os custos da criminalidade no Brasil, quando somados, podem ultrapassar R$ 1,5 trilhão por ano, representando uma fração significativa do PIB nacional. Este ‘imposto oculto’ da ilegalidade impacta de forma desproporcional os mais pobres, que enfrentam a violência diariamente e dependem de serviços públicos fragilizados. Combater o crime, portanto, não é apenas uma questão de segurança pública, mas um imperativo econômico.
A recente movimentação do Ministério da Fazenda, que busca acelerar a aprovação de projetos de lei para combater a evasão fiscal, e a criação de um núcleo permanente contra o crime organizado refletem uma crescente consciência de que o crime não deve ser visto como um aspecto inevitável da economia, mas como uma distorção que precisa ser endereçada. A luta contra a criminalidade é, sem dúvida, um desafio que requer uma abordagem coordenada e um compromisso firme por parte das autoridades.

