Desafios no Sistema Aeroportuário do Rio de Janeiro
A controvérsia acerca do sistema aeroportuário do Rio de Janeiro voltou a ganhar destaque nas esferas política, econômica e institucional. Essa discussão, familiar para os cariocas, já trouxe consequências significativas no passado. Recentemente, a ideia de flexibilizar as regras de operação no Aeroporto Santos Dumont gerou uma onda de reações entre entidades empresariais tradicionais, especialmente do setor turístico, além de despertar o alerta do prefeito Eduardo Paes. O gestor enfatizou os riscos de decisões de curto prazo que podem comprometer o planejamento necessário para a cidade recuperar sua relevância internacional.
O cerne da discussão não é novidade. Sempre que há tentativas de inflar artificialmente o Santos Dumont, o Aeroporto Internacional do Galeão acaba esvaziado. Dados recentes ilustram claramente os impactos desse tipo de movimentação: quando o Santos Dumont assumiu um volume de voos além do ideal, o Galeão perdeu rotas internacionais, resultando na redução das operações das companhias aéreas e na diminuição da conectividade global do Rio. Isso ocorre em um momento em que o turismo internacional começa a se recuperar com força, prevendo-se um aumento significativo de visitantes até 2025.
Impactos da Hiperconcentração de Voos
A Fecomércio RJ não hesitou em classificar qualquer tentativa de ampliação indiscriminada do Santos Dumont como um erro estratégico. Embora o aeroporto localizado no centro da cidade possua grande simbolismo e funcionalidade para a ponte aérea e voos regionais, ele já opera no seu limite físico e operacional. Forçar essa situação poderá comprometer a segurança e a qualidade do serviço, além de ter um efeito colateral bem conhecido: a drenagem de demanda do Galeão. Este último destaca-se como o único terminal na cidade com o potencial para se tornar um grande hub internacional de passageiros e cargas.
Essa crítica é ecoada pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, que lembrou que a hiperconcentração de voos no Santos Dumont não apenas desafia a lógica econômica, mas também o planejamento público. Cada voo internacional perdido no Galeão resulta em menos turistas estrangeiros, o que, por consequência, impacta os empregos nos setores de hotelaria, alimentação, entretenimento e cultura. Esse cenário também implica na diminuição de eventos internacionais, congressos e feiras que geram bilhões e sustentam a economia fluminense.
A Aliança de Interesses entre o Prefeito e o Setor Produtivo
Dentro desse contexto, a postura do prefeito Eduardo Paes reforça a aliança entre as entidades empresariais e o setor produtivo. Em resposta às declarações do ministro Silvio Costa Filho, Paes destacou que o Rio não pode aceitar mais decisões improvisadas que possam desregular uma política aeroportuária que trouxe resultados positivos. A coordenação entre os aeroportos Santos Dumont e Galeão, alcançada após anos de dificuldades, permitiu a reabertura de rotas internacionais e a recuperação da imagem do Rio como porta de entrada do Brasil.
A argumentação é clara: cidades globais não competem entre si desestimulando seus aeroportos internacionais. O Rio de Janeiro é reconhecido mundialmente, associado a turismo, cultura, negócios, inovação e grandes eventos. Para manter essa posição de destaque, é imprescindível um aeroporto internacional forte, bem conectado e competitivo. Esvaziar o Galeão não fortalece o sistema aeroportuário; pelo contrário, fragiliza-o e compromete uma das cadeias econômicas mais relevantes do estado, especialmente em um momento em que sinais claros de recuperação começam a surgir. Este ano, por exemplo, a cidade observou uma alta de 65% no número de turistas estrangeiros em comparação ao ano anterior.

