A Mostra que Celebra o Funk
O Museu da Língua Portuguesa, localizado na capital paulista, inaugura neste sábado (15) a esperada exposição intitulada “FUNK: Um Grito de Ousadia e Liberdade”. Esta exposição, concebida inicialmente pelo Museu de Arte do Rio (MAR), que recebeu o evento por um ano e meio, reflete a profunda influência do funk nas esferas da língua, artes visuais e moda, com um acervo que abrange a rica história do funk paulista.
Com um total de 473 obras, que incluem pinturas, fotografias e registros audiovisuais, a curadoria visa apresentar a trajetória do funk além da música, sublinhando suas raízes urbanas e periféricas e os desdobramentos estéticos, sociais e políticos que o acompanham. A mostra estará disponível ao público até agosto de 2026.
“Esta exposição é para todos, sejam funkeiros ou não. Pretendemos proporcionar uma visão do funk que ultrapassa o simples estilo musical, apresentando-o como uma cultura rica e multifacetada. É uma chance de explorar as diversas linguagens artísticas dentro do movimento funk”, explica Renata Prado, curadora da mostra em São Paulo.
Renata, que se destaca como pesquisadora da cultura funk e das relações étnico-raciais, é também a idealizadora da Frente Nacional de Mulheres no Funk. Sua pesquisa aprofunda o entendimento das múltiplas facetas do funk, incluindo sua presença em várias práticas culturais, principalmente nas artes visuais contemporâneas. A curadoria enfatiza que o funk se tornou uma referência significativa em termos de visualidade e diversidade.
Artistas em Destaque
Entre os renomados artistas brasileiros que têm obras expostas estão Panmela Castro, Rafa Bqueer, Marcela Cantuária, Maxwell Alexandre e Rafa Black. Cada um deles aporta uma perspectiva única ao movimento funk. Por exemplo, Tiago Furtado ilustra a intersecção entre Rap e Funk, utilizando os icônicos prédios do centro histórico de São Paulo como pano de fundo. Já Markus CZA, através de suas obras, destaca os movimentos negros inseridos na realidade paulista.
Markus enfatiza a importância de iniciativas como essa, que permitem que a cultura funk seja reconhecida em espaços institucionais: “Durante muitos anos, esse espaço foi negado a nós. Hoje, estamos diante de uma política cultural que é suficientemente abrangente para acolher uma exposição sobre funk no Museu da Língua Portuguesa”.
A Voz da Juventude Periférica
A curadora Renata Prado ressalta que o funk emerge de uma cultura juvenil da periferia, representando uma geração que, por muito tempo, teve sua voz silenciada. “Estamos falando de uma juventude historicamente marginalizada. Hoje, essa juventude está ocupando espaços de prestígio, como museus, através da sua arte”, afirma ela, sublinhando a relevância dessa exposição para o reconhecimento da cultura funk.
Contexto Histórico do Funk
A exposição também traça um panorama histórico do funk, desde suas origens nos bailes black, que começaram a ser realizados no Rio de Janeiro e em São Paulo no final da década de 1960, até a influência da ancestralidade negra nas tradições da Soul e Black Music. Eventos memoráveis, como o show de James Brown na festa Chic Show, em novembro de 1978, que atraiu cerca de 22 mil pessoas, são reinterpretados através de obras criadas especificamente para a exposição.
As fotografias de acervos pessoais de dançarinos, músicos e outros artistas que desempenharam papéis significativos no movimento também fazem parte da mostra. Nomes como Jair Rodrigues, com os Originais do Samba, Nelson Triunfo, Gerson King Combo e Lady Zu estão representados em imagens que ajudam a contar a rica história do funk.

