Imagens Raras do Rio entre 1937 e 1945
Um notável conjunto de álbuns fotográficos, recentemente descobertos no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, traz à tona imagens raras que capturam a essência da capital carioca entre 1937 e 1945. Este período foi marcado por significativas transformações urbanas, culminando na construção da Avenida Presidente Vargas. As aproximadamente 14 mil fotografias estão organizadas em 11 álbuns e retratam uma cidade que, em muitos aspectos, já não existe.
A iniciativa de catalogar este acervo começou há algum tempo e revelou que, além dos 4 milhões de itens já identificados, existem ainda milhões de documentos, fotos e registros que aguardam organização. Segundo os pesquisadores, os álbuns estavam guardados em um baú e representam um dos achados mais significativos da memória carioca nos últimos anos.
Cenas do Cotidiano e Transformações Urbanas
As imagens capturam diversas regiões cariocas, como Tijuca, Pavuna, Madureira e o Centro Histórico, incluindo a emblemática Praça 15. Muitos registros mostram cenas do dia a dia, como trabalhadores em suas atividades e o interior de vilas operárias. Para Elizeu Santiago, presidente do Arquivo Geral, a importância desses registros é inegável: “Não há muitos documentos oficiais que retratem o Rio nesse período. Essas fotografias oferecem uma perspectiva única da cidade, mostrando tanto suas destruições quanto as novas construções que surgiram”.
Entre as imagens mais impactantes estão as que documentam a abertura da Avenida Presidente Vargas, uma obra que começou na década de 1940 e resultou na demolição de cerca de 500 prédios, incluindo importantes igrejas, escolas e casarões. A transformação se concentrou especialmente na área que vai da antiga Praça 11 até a Candelária. A preservação da Igreja da Candelária ocorreu após forte pressão da população, ao passo que a Igreja de São Pedro dos Clérigos, um ícone do barroco carioca, foi demolida.
Registro do Processo de Demolição
As fotografias também ilustram o processo de demolição e construção, destacando a força de trabalho envolvida nessas mudanças. Operários são retratados em edifícios em demolição, utilizando ferramentas como picaretas e dinamite — tecnologias que eram comuns na época e essenciais para o redesenho do Centro do Rio. A grande reforma da Avenida Presidente Vargas coincidiu com o contexto da Segunda Guerra Mundial, o que, segundo especialistas, acentua o caráter monumental da obra.
Os Filhos de Augusto Malta como Fotógrafos
A autoria das imagens deve-se principalmente a Aristóteles e Uriel Malta, filhos de Augusto Malta, o fotógrafo oficial da cidade desde o início do século 20, durante a gestão de Pereira Passos. Embora algumas fotos sejam assinadas, muitas são atribuídas aos irmãos com base em características estilísticas e históricas. As composições fotográficas são marcantes, como a de um trabalhador ao lado de um trator, com a Central do Brasil ao fundo, ou a de um homem observando as ruínas de uma área que foi recentemente demolida.
Para os pesquisadores, essas imagens não apenas servem como documentos históricos, mas também instigam reflexões sobre o impacto humano das grandes obras urbanas. “Embora admirarmos essas fotos hoje, é impossível não pensar na vida das pessoas que estavam perdendo suas casas e suas comunidades”, comentam alguns especialistas.
Preservação e Futuro do Acervo
Agora, com este importante capítulo da história carioca reavivado, o Arquivo Geral planeja lançar um livro digital gratuito, previsto para dezembro, que reunirá uma seleção do acervo recém-descoberto. Além disso, há planos para criar um projeto de reconstrução em 3D da área que foi demolida, permitindo que o público faça uma “caminhada” virtual por um Centro do Rio que não existe mais. Este resgate histórico promete não apenas preservar a memória da cidade, mas também educar as futuras gerações sobre as transformações que moldaram o atual cenário carioca.

