Possível Greve de Pilotos e Comissários
A viagem de Ano-Novo de muitos brasileiros pode ser comprometida em 2026 devido à iminente greve de pilotos e comissários, prevista para ser deflagrada na próxima segunda-feira em todo o Brasil. O Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) convocou uma assembleia geral extraordinária de greve, agendada para a manhã do dia 29, que ocorrerá presencialmente na sede do SNA em São Paulo.
A categoria, que inclui pilotos e comissários de aviação regular, não aceitou a proposta da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) apresentada pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA). No entanto, é importante destacar que os funcionários da Latam Airlines Brasil já haviam concordado com a CCT no início de dezembro, o que gera uma divisão na categoria.
Crescimento da Demanda Aérea
A preocupação das autoridades se intensifica em função do aumento significativo na demanda de passageiros durante esse período. Dados do Ministério do Turismo, divulgados na última terça-feira, indicam que o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, deverá registrar cerca de 1.948.147 passageiros entre Natal e Ano-Novo, representando um aumento de 10,6% em comparação ao mesmo período de 2024. A situação é similar no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, que prevê receber aproximadamente 780 mil passageiros entre 20 de dezembro e 2 de janeiro.
Além disso, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) estima a realização de mais de 9 mil voos extras e a disponibilização de 1,4 milhão de assentos adicionais para atender à demanda por voos, tanto domésticos quanto internacionais, nesta alta temporada de verão 2025/2026. De acordo com a entidade, a oferta total de assentos entre dezembro e fevereiro deverá ultrapassar 20 milhões, resultando em um incremento de 15% em relação a 2024. “Em 2025, superamos, pela primeira vez, os números pré-pandemia, e a expansão da malha para a alta temporada demonstra a confiança das empresas na inclusão de mais brasileiros no transporte aéreo”, afirmou Juliano Noman, presidente da ABEAR.
Acompanhamento da Anac
Em entrevista ao Correio, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que está monitorando de perto essa situação. “Em casos como esse, a Agência ressalta que os passageiros devem receber suporte, conforme as Resoluções nº 400/2016 e nº 280/2013 da Anac, que tratam da assistência em casos de atrasos e cancelamentos de voos e da acessibilidade”, afirmou. Os passageiros também podem registrar queixas no site da Anac, através da plataforma Consumidor.gov.br.
A Anac destacou que, desde o dia 19 deste mês, está em curso a Operação Fim de Ano, que prevê um acompanhamento especial até 5 de janeiro de 2026. “Neste período, estamos monitorando a movimentação nos aeroportos, assegurando uma prestação de serviço de transporte aéreo adequada e segura aos passageiros”, garantiu a agência. Os dados oficiais sobre a demanda e a oferta de voos em dezembro serão compilados em janeiro, quando todas as companhias aéreas enviarão as informações à Anac.
Reivindicações dos Aeronautas
Dentre as reivindicações do SNA está o reajuste de salários de diárias baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 3%, além de um ajuste no Vale Alimentação (VA) correspondente ao INPC mais 10%. Por outro lado, a proposta do SNEA contempla apenas a correção pelo INPC dos pisos salariais, salários fixos e variáveis, e diárias nacionais. A discordância se acentua ainda mais em relação ao tempo em solo, onde as empresas sugiram não remunerar de acordo com as bases contratuais em situações de necessidade imperiosa e em casos de trocas de voos.
O SNA chegou a formalizar um ofício de repúdio devido a essa proposta relacionada ao tempo em solo, alegando que ela não atende às exigências da categoria e caracteriza má-fé em relação às cláusulas pertinentes. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) envolveu-se na tentativa de mediar um acordo, mas sem sucesso. “A nova proposta mediada pelo TST não contemplava o ganho real de salário e não atendia a áreas prioritárias, como o combate à fadiga, um tema diretamente ligado à saúde e segurança dos tripulantes”, comentou o sindicato em nota após a reunião.
Conforme o SNA, as companhias aéreas têm obtido resultados financeiros expressivos, mas ainda negam a possibilidade de um aumento real para os tripulantes. “Em 2025, as empresas registraram lucros recordes, inclusive a Azul, que, mesmo em recuperação judicial, apresentou resultados positivos acima das expectativas”, ressaltou. O sindicato enfatizou que, mesmo ciente dos possíveis transtornos que uma greve pode causar, recorrerão a esse direito legítimo em virtude da resistência das empresas em reconhecer a importância e a valorização dos profissionais que asseguram a segurança operacional e o conforto dos passageiros.

