Transformação do Setor Hoteleiro
Por muitos anos, a hotelaria se concentrou na venda de diárias e serviços complementares. Contudo, essa abordagem está mudando. O setor agora volta suas atenções para a criação de experiências com curadoria própria, visando atrair um público fiel. Desde hotéis urbanos até grandes resorts, muitos estabelecimentos estão convertendo áreas comuns, restaurantes e até mudanças em suas piscinas em palcos para eventos, festas temáticas e programações voltadas para o bem-estar. Essa mudança não apenas reposiciona os hotéis como destinos de entretenimento, mas também amplia suas fontes de receita além da simples hospedagem.
Para entender como essa nova estratégia impacta os resultados e a marca dos hotéis, o Hotelier News conversou com figuras influentes do ramo. Eles discutem o crescimento significativo da receita proveniente de eventos pós-pandemia, os formatos que estão se estabelecendo e os principais desafios enfrentados pelos hotéis que desejam se tornar centros permanentes de experiências.
A Visão da Hotéis Othon
Jorge Chaves, diretor Comercial e de Operações da Hotéis Othon, afirma que a mudança de foco dos hotéis para plataformas de entretenimento não é apenas uma tendência passageira, mas um caminho necessário para a hotelaria moderna. Ele destaca que a hospedagem deixou de ser o único produto oferecido e agora faz parte de um ecossistema de experiências e lazer.
“A hotelaria contemporânea precisa oferecer experiências memoráveis. Na Othon, estamos empenhados em transformar nossos hotéis em verdadeiros centros de entretenimento. O Rio Othon Palace, por exemplo, se consolidou como um hub de lazer em Copacabana, com o Wave by Othon e um novo rooftop que combinam gastronomia, música e bem-estar”, enfatiza Chaves.
Ele também menciona que essa abordagem se reflete nas programações dos hotéis, que agora incluem ações pensadas para destacar o empreendimento como um destino em si, e não apenas como um local para pernoite. “Neste Réveillon, teremos cinco festas simultâneas. Recentemente, oferecemos uma experiência temática inspirada na Lady Gaga no nosso Wave by Othon. Além disso, promovemos sessões de ioga ao amanhecer, proporcionando uma experiência relaxante e única”, acrescenta.
Impacto Financeiro e Oportunidades
Chaves destaca que eventos já contribuem substancialmente para a receita da rede, representando entre 16% e 20% do total. Ele acredita que essa participação tende a crescer à medida que os espaços são modernizados e o setor de Alimentos e Bebidas (A&B) se fortalece. “Estamos vendo um aumento na demanda por eventos que integram lazer e trabalho, especialmente com o movimento bleisure e a crescente popularidade do mercado MICE, que inclui conferências e eventos híbridos”, observa.
“Estamos focando em experiências que refletem o espírito carioca. Nossos eventos, que vão desde festivais gastronômicos até sunsets com DJs no rooftop, têm como objetivo criar experiências memoráveis que reforçam a marca”, complementa Chaves. Essa abordagem, que eles chamam de Experiência Carioca Othon, abrange tudo, desde a ambientação até a curadoria artística e gastronômica.
Iniciativas no Rosewood São Paulo
Silvio Araújo, diretor de Marketing do Rosewood São Paulo, compartilha uma perspectiva diferente. Para ele, o foco do hotel está mais no lazer do que no corporativo, com mais de 70% da sua receita proveniente de turistas que buscam experiências únicas. “Não esperávamos que o nosso público fosse tão predominantemente de lazer, o que nos impulsionou a desenvolver atividades próprias”, afirma Araújo.
Ele relata que o Rosewood criou uma programação diferenciada, visando reforçar sua identidade de marca, em vez de apenas monetizar esses eventos. “Realizamos uma variedade de atividades, desde eventos de bem-estar a festivais gastronômicos, sempre com a intenção de agregar valor à estadia”, explica.
Entretenimento e Comunidade no Santa Teresa MGallery
O Santa Teresa MGallery, também no Rio, tem investido em eventos próprios com o objetivo de aumentar sua receita e fortalecer o relacionamento com a comunidade local. Sophie Barbara, gerente geral do hotel, destaca iniciativas como brunchs, happy hours e mostras de arte. “Realizamos festas temáticas que atraem muitos visitantes, e a contratação de um assessor de imprensa ajudou a aumentar nossa visibilidade junto à comunidade carioca”, afirma.
Ela prevê que, em 2026, continuarão a investir em projetos de arte e entretenimento, além de se concentrar em casamentos, um mercado em expansão. “Essas iniciativas não apenas ajudam a divulgar o hotel, mas também proporcionam experiências memoráveis, essenciais para fidelizar nossos clientes”, conclui Sophie.
No geral, a transformação dos hotéis em centros de entretenimento vai além do convencional. Ao oferecer atividades diversificadas e experiências únicas, os hotéis não apenas atraem um público mais amplo, mas também se tornam verdadeiros pontos de encontro, fortalecendo suas marcas e sua presença no mercado.

