Juliana Leite: Uma História de Coragem e Superação
Quase um ano após a tragédia que alterou sua vida, Juliana Leite Rangel, de 27 anos, se prepara para celebrar o Natal de uma forma especial. Na véspera do Natal de 2024, a jovem foi atingida por um tiro no crânio disparado por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), enquanto viajava pela Rodovia Washington Luís (BR-040), em Duque de Caxias. Agora, além da festividade natalina, ela comanda uma celebração da vida ao comemorar sua recuperação.
Em uma entrevista ao O DIA, Juliana compartilhou que seu processo de recuperação é desafiador e lento, sendo o principal objetivo retornar a andar sem insegurança. O tiro afetou seu equilíbrio, obrigando-a a depender do auxílio de terceiros para se locomover. Antes da tragédia, Juliana era uma mulher independente, morando sozinha e atuando como agente comunitária de saúde. Atualmente, ela reside com seus pais, que a apoiam em sua reabilitação.
“Minha recuperação tem sido lenta, mas os médicos garantem que está indo bem. É um processo gradual, como eles dizem, um trabalho de formiguinha. Meu maior desafio é retomar a habilidade de andar normalmente, pois ainda enfrento dificuldades no equilíbrio. Preciso estar acompanhada para me deslocar”, contou.
Desafios e Realidade da Recuperação
Além das dificuldades motoras, Juliana também enfrenta problemas auditivos, tendo perdido cerca de 50% da audição do ouvido esquerdo. Ela lida ainda com dores intensas de cabeça e no ouvido. “Hoje, sou totalmente dependente das pessoas para realizar minhas atividades cotidianas. Sem o apoio da minha família em um momento tão delicado, não sei onde estaria. É uma situação estranha, especialmente porque antes eu cuidava da saúde dos outros e agora sou eu quem precisa de cuidados”, refletiu.
Este ano, Juliana e sua família decidiram celebrar o Natal de forma diferente. No dia do incidente, ela estava a caminho da ceia natalina na casa da irmã, em Itaipu, na Região Oceânica de Niterói. Para evitar repetir a experiência traumática do ano anterior, ela optou por viajar alguns dias antes.
A mãe de Juliana, Dayse Rangel, revelou que a celebração deste ano será ainda mais significativa, marcada pela força e resiliência da filha. “Este ano já é diferente do passado. Levando em consideração os traumas da Juju e de todos nós, decidimos passar mais uma vez o Natal na casa da minha filha. Mas, desta vez, ela chegou mais cedo para evitar a viagem na véspera, que foi tão dolorosa. As lembranças daquele dia estão sempre presentes. Estamos fazendo o melhor para que ela se sinta bem e feliz ao lado da família que a ama”, disse.
Um Natal de Agradecimento e Comemorações
A família também programou uma viagem no dia 23, à tarde, para evitar qualquer risco durante o trajeto. “Vamos celebrar como se estivéssemos comemorando novamente o aniversário dela junto com o Natal. Será um momento de alegria e gratidão a Deus por nos proporcionar a continuidade de nossas vidas”, afirmou Dayse.
Além da ceia, a mãe planeja trazer um bolo para celebrar o “novo aniversário” da filha. “Vamos cantar parabéns para ela, pois merece. Juju foi muito corajosa e Deus lhe deu uma nova chance de vida. Estamos felizes por tê-la de volta”, comemorou.
Perdão e Esperança de Justiça
Juliana revelou que já perdoou os policiais envolvidos no incidente, mas deseja ver a Justiça sendo feita. Ela lamenta que nenhum dos agentes tenha procurado a família para pedir desculpas. “Espero que a justiça divina seja realizada e oro para que isso não aconteça com mais ninguém. Apenas eu e minha família sabemos o que vivemos e como lutei pela minha sobrevivência. Embora nenhum deles tenha me pedido desculpas, já os perdoei e não guardo ressentimentos”, afirmou.
Atualmente, três agentes envolvidos no caso estão sob investigação interna da PRF e também enfrentam um inquérito conduzido pelo Ministério Público Federal. Até o momento, não houve avanços significativos na apuração dos fatos.
Conforme determinação judicial, um motorista da PRF foi designado para acompanhar Juliana em suas consultas médicas e sessões de fisioterapia, além de atendimentos com neurologista e fonoaudiólogo.

